Este é um comparativo a respeito de algumas semelhanças e diferenças geralmente vistas num processo psicoterapêutico e num processo de Coaching. Todas as classificações e categorizações feitas devem ser lidas com ressalvas, pois foram feitas apenas para facilitar a compreensão macro da situação.

Este texto é parte integrante da aula online “Psicoterapia X Coaching: Diferenças e Semelhanças”, promovida pela Academia do Psicólogo no dia 08/08/2017.

Sem a explicação cuidadosa contida na vídeo-aula, alguns itens podem ser mal compreendidos e/ou mal interpretados.

Diferenças

Na Psicoterapia o serviço é oferecido por um psicólogo com pelo menos 5 anos de graduação, cuja profissão é regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia. No Coaching, o serviço é oferecido por um profissional que se intitula coach (tendo ou não qualquer formação superior, tendo ou não feito qualquer formação em Coaching), e a profissão não é regulamentada.

Enquanto a Psicoterapia pode ser indicada para pessoas cujo funcionamento emocional e comportamental é bom ou ruim (“funcional” ou “disfuncional”), o Coaching é indicado apenas para pessoas que estão “funcionando bem”.

Um processo psicoterapêutico não tem “início, meio e fim” preestabelecidos, enquanto o processo de Coaching sim (vendido por pacote de sessões – 10 a 12 sessões).

Na Psicoterapia o foco do processo é no passado, no presente e no futuro (cuida do sujeito como um todo), enquanto no processo de Coaching o foco é prioritariamente no presente e no futuro (sempre relacionado ao objetivo a ser alcançado escolhido pelo cliente).

De forma geral e resumida, o objetivo de um processo psicoterapêutico é ampliar o autoconhecimento do cliente e instrumentalizá-lo a fazer análises e interpretações sobre o modo como atua na vida. Isso acontece ao identificar-se as causas do seu comportamento, facilitando assim eventuais mudanças (se assim o desejar), a fim auxiliá-lo a produzir uma vida mais satisfatória, com menos sofrimento. Na Psicoterapia, também é comum observar o profissional ajudando o cliente a ampliar seu repertório comportamental e emocional como um todo, ajudando-o no enfrentamento das dificuldades, bem como auxiliando-o no desenvolvimento de habilidades comportamentais e emocionais específicas que possam ser utilizadas na vida como um todo (inclusive para amplificar e impulsionar aspectos positivos da vida do cliente). Já no processo de Coaching, o objetivo primordial é ajudar o cliente no estabelecimento de um objetivo bem definido (seja na sua vida pessoal ou professional), bem como auxiliá-lo na identificação de maneiras para alcançá-lo (construção de um passo a passo com metas viáveis), acompanhando todo o processo. Além disso, é papel do coach desafiar o cliente a descobrir e utilizar o máximo de seu potencial para atingir o objetivo, levando-o a buscar novos entendimentos, alternativas e opções capazes de fazer com que ele amplie suas realizações e conquistas. Portanto, trata-se de um trabalho bastante focado e direcionado ao alcance de um objetivo específico, possível de ser atingido num espaço de tempo que compreende aproximadamente de 6 a 10 meses de trabalho.

Os resultados alcançados num processo psicoterapêutico costumam ser consequência de um bom trabalho desenvolvido, enquanto num processo de Coaching há, desde o início, um compromisso bem estabelecido no alcance de resultados. Ou seja, ao final de um processo de Coaching determinados resultados (estabelecidos no início do processo) devem ter sido alcançados ou estarem bem próximos de ocorrer, enquanto na Psicoterapia a mensuração e o alcance de determinados resultados é muitas vezes feita de forma indireta.

Independentemente da abordagem teórica adotada pelo psicoterapeuta, num processo terapêutico há uma linha de raciocínio, um fio condutor e organizador, um raciocínio clínico embasado por (pelo menos) uma abordagem psicológica que serve de base e guia para as intervenções realizadas pelo terapeuta. Ou seja, a queixa/demanda trazida pelo cliente é de alguma forma analisada dentro de um viés teórico que guia as intervenções do terapeuta e todo o processo. Já no Coaching, esse “raciocínio clínico” não acontece (ou não deveria acontecer), já que a ideia é que no Coaching o cliente chegue, com a ajuda de perguntas e ferramentas utilizadas pelo coach, às próprias respostas e resoluções relacionadas ao alcance de seu objetivo. Ou seja, a ideia é extrair do próprio cliente aquilo que faz sentido para ele, sem que isso seja guiado por uma forma de compreender, analisar e interpretar típico uma determinada abordagem teórica/psicológica.

Os psicólogos apresentam um conhecimento científico a respeito do comportamento humano que permite compreender com mais clareza as diferentes demandas trazidas pelos clientes, o que facilita inclusive o encaminhamento para um processo terapêutico ou outro tipo de ajuda advinda de um profissional não psicólogo, se for o caso. Os coaches não necessariamente terão esse conhecimento aprofundado.

Psicólogos a priori possuem uma expertise maior (tanto teórica quanto prática) em assuntos que envolvem o comportamento humano. Ao passo que coaches não-psicólogos podem apresentar um conhecimento mais aprofundado em áreas relacionadas à sua formação ou áreas de atuação. Por exemplo, um economista que trabalha como coach financeiro provavelmente apresentará uma expertise maior nesse campo (se comparado a um coach que seja psicólogo).

O psicólogo está apto a cuidar dos aspectos psicológicos e emocionais relacionados a quaisquer transtornos mentais descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentas (DSM-5). O coach não está apto a cuidar destas questões.

A periodicidade num processo psicoterapêutico geralmente é determinada. É comum que os encontros sejam semanais, embora admita encontros quinzenais ou mensais (o que costuma acontecer, no geral, no final do processo, quando a pessoa está se aproximando do momento de encerrar o acompanhamento). Já no Coaching, essa periodicidade acompanhará a necessidade de cada processo em produzir resultados. Deve levar em conta, especialmente, o tempo necessário para que as ações do cliente tenham efeito. O espaçamento entre as sessões pode ser semanal (o que geralmente acontece no início do processo), quinzenal e mensal. Em alguns casos, pode acontecer um espaçamento maior que o mensal caso as ações do cliente exijam um tempo maior para terem efeitos ou serem implementadas.

O contato entre as sessões é um diferencial importante. Embora na Psicologia esse contato seja permitido, a sua formatação varia de abordagem para abordagem e do manejo de cada psicoterapeuta. O período entre sessões é importante para o cliente elaborar algumas questões que serão discutidas na sessão seguinte e não há a necessidade de chegar com resultados específicos num próximo encontro. Já no Coaching, esse contato entre sessões é fundamental e acaba sendo mais uma ferramenta de atuação. Por ser uma parceria focada em resultados dentro de um tempo determinado, o contato entre os encontros serve para acompanhar a execução das ações.

Geralmente a Psicoterapia é realizada em consultório. Eventualmente pode ser realizada em outros ambientes como forma de intervenção terapêutica, desde que resguardos os elementos mínimos de privacidade, ética e conforto. É um processo presencial e apenas sessões eventuais podem ser realizadas em ambiente virtual. Quanto ao Coaching, existe maior flexibilidade, sendo que os encontros podem ser realizados em consultório, salas de reunião, cafés, na casa do cliente, etc., desde que resguardos os elementos mínimos de privacidade, ética e conforto. Todo o processo ou parte dele pode ser realizado presencialmente ou virtualmente.

Semelhanças

Tanto na Psicoterapia quanto no Coaching, grande parte das intervenções são guiadas pelo conhecimento produzido pela Psicologia. O Coaching faz uso do conhecimento advindo de várias ciências, tais como Administração, Marketing, Sociologia, Filosofia, Neurolinguística, etc., mas especialmente da Psicologia.

Muitas habilidades, alguns conhecimentos e atitudes de um psicoterapeuta são também as de um coach, pelo menos em algum momento do processo, já que em ambos os casos o profissional está lidando com uma ou mais pessoas que desejam se conhecer melhor para então utilizar tal conhecimento a seu favor, em relação a algo de sua vida pessoal e/ou profissional.

Um bom “manejo clínico” por parte do profissional contribui significativamente para que ambos os processos caminhem bem. Vale a pena ressaltar que, num processo de Coaching, esse “manejo clínico” costuma fazer toda a diferença para o bom andamento do mesmo (e isso não significa que se está fazendo Psicoterapia dentro de um processo de Coaching, mas podem ocorrer, sim, “momentos terapêuticos” dentro de algumas sessões de Coaching, o que costuma ajudar o cliente no alcance de seu objetivo).

Ambos os profissionais (o coach e o psicólogo) têm se dedicado a refletir e produzir conhecimento sobre assuntos parecidos e que, num geral, envolvem conhecimentos advindos da Psicologia. Ex.: motivação, crenças, desejos etc. Esses temas estão relacionados ao desenvolvimento de alguém que almeja alcançar algo. O diferencial, nesse caso, é que o psicólogo se destaca como aquele que, a princípio, tem um conhecimento mais aprofundado sobre essas temáticas que envolvem o comportamento humano.

Coaches e psicólogos acreditam na potencialidade e capacidade humana de se reinventar, transformar, ressignificar e construir novas formas de agir.

A responsabilidade pelo sucesso do processo, tanto psicoterapêutico quanto de um processo de Coaching é prioritariamente do cliente. Sem o comprometimento do cliente, nada acontece. Portanto, não há garantia de resultados em nenhum dos casos (e sim um compromisso firmado entre cliente e profissional para que, trabalhando em conjunto e em parceria, construam tais resultados).

Algumas demandas trabalhadas em ambos os processos podem ser bastante similares, pois envolvem o desenvolvimento pessoal e/ou profissional de uma pessoa (desde que não estejam relacionadas com questões patológicas e/ou que envolvam grande sofrimento psicológico).

Os dois processos de desenvolvimento ocorrerão apenas se a pessoa estiver comprometida e motivada com o trabalho proposto. Alguém que participa de algum desses processos por obrigação ou devido à demanda de um terceiro, dificilmente terá bons resultados.

Ambas as profissões têm princípios éticos que norteiam a sua atuação. Contudo, como o Coaching é uma profissão não-regulamentada, inexiste fiscalização ou orientação formal sobre este aspecto para os coaches.

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Ghoeber Morales
Ghoeber Morales

Psicólogo pela UFMG, Mestre em Análise do Comportamento pela PUC/SP, Master Coach pelo Center for Advanced Coaching (USA), Membro do Institute of Coaching (Harvard Medical School) e do International Society for Coaching Psychology (Londres).



Formação em Coaching exclusivamente voltada para psicólogos formados. Temos o objetivo de capacitar psicólogos a atuarem também como coaches, porém fazendo uso de todo o conhecimento em Psicologia já adquirido ao longo da graduação.

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